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A crueldade da desigualdade no ensino superior nos dados da OCDE

Eduardo Borges

Education at a Glance 2019: algumas observações sobre o Brasil

Os dados do Relatório “Education at a Glance 2019” da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para o Brasil mostram os grandes desafios ainda existentes adiante, ainda que alguns progressos foram observados nas últimas décadas. O que salta aos olhos é o fato de a educação ainda ser um forte marcador de desigualdades no país e que as possibilidades que os indivíduos possuem à sua frente ainda são fortemente correlacionados à origem social dos estudantes: estudantes oriundos de famílias de menor renda e que estudam em escolas públicas ainda possuem menos oportunidades de acesso aos espaços mais valorizados do mercado de trabalho e do campo acadêmico. Ainda são exceções em várias áreas!


Os dados sobre o sistema de ensino superior brasileiro reforçam os resultados indicados pela literatura e pelas pesquisas realizadas nos últimos anos: o sistema se expandiu e promoveu acesso de estudantes mais pobres e que historicamente eram minoritários no ensino superior, mas em muitos aspectos o ensino superior ainda reproduz desigualdades na medida em que é fortemente estratificado entre áreas e cursos (estudantes mais pobres com tendência a cursar áreas menos prestigiadas). Além disso, a evasão e retenção de estudantes são sérios problemas.


No Brasil apenas 18% da população entre 25 e 64 anos de idade possui diploma de ensino superior. Metade do observado na Argentina (36%) e menor que no Chile (25%) e Colômbia (23%). Na faixa etária mais jovem (25 a 34 anos) houve aumento no número de diplomados: de 11% em 2008 para 21% em 2018. O grande desafio que a literatura sobre sociologia do ensino superior e políticas públicas tem indicado é como aumentar a cobertura do sistema, garantir a permanência, conclusão e a igualdade de oportunidades para todos os estudantes, a despeito da origem social e características adscritas (gênero, cor da pele, etnia, dentre outros).


Entre os discentes, apenas 33% concluem o curso no período adequado de integralização.

Enquanto a média da OCDE é 39%. Quando se consideram aqueles que concluem com três anos de acréscimo este índice aumenta para 50%. Também abaixo da média da OCDE, 67%. Como indicado por François Dubet (2015) massificação não é sinônimo de democratização, mas pressupõe permanência, conclusão e inserção no mercado de trabalho. Os dados reforçam os desafios que os agentes públicos têm adiante e igualmente as questões que a pesquisa sociológica precisa enfrentar em busca da consolidação de um sistema que seja justo e que promova igualdade de oportunidades, democratização, mobilidade social e desenvolvimento econômico, social e cultural do país.

Mais informações: http://portal.inep.gov.br/education-at-a-glance. Acesso em 05/11/2019.

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Eduardo Borges, doutorando em Sociologia no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA/UFRJ). Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Ensino Superior (LAPES/PPGSA/UFRJ) e do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação Superior (LEPES/FE/UFRJ).

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