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A “boiada” está passando na Educação

É verdade que houve muita gritaria em torno do ofício do MEC que classificava de “imoralidade” as manifestações políticas no âmbito das universidades públicas. É verdade também que eles voltaram atrás. Porque foram cobrados pelo Ministério Público Federal que exigiu explicações sobre este ofício, visto como inconstitucional por desobedecer ao princípio da autonomia e da liberdade de expressão.

No Inep a preocupação se espalha entre a equipe técnica e os pesquisadores que utilizam dados da instituição. Unem-se aos acadêmicos e servidores, famílias cujos filhos estão em fase de transição para a educação superior e não compreendem a nomeação de um coronel da aeronáutica para a diretoria de avaliação da educação básica. Quinta nomeação para um cargo decisivo e de perfil estritamente técnico, o coronel nomeado tem um currículo que não indica qualquer competência para gerenciar o maior e mais importante exame no nosso sistema educacional.


O governo federal demonstra na área de educação o mesmo despreparo, a mesma incompetência, demonstrados na gestão da pandemia. A facilidade com que tem conseguido desconstruir mais de 50 anos de um trabalho de construção institucional, que inclusive conseguiu se expandir mesmo nos governos militares, só não é surpreendente pela situação explosiva do sistema de saúde nacional. A resistência de governadores, prefeitos e até da magistratura conseguiu limitar alguns danos da insanidade federal. Mas os sistemas de ensino básico e superior, a estrutura consolidada de pesquisa vem sendo dissolvidos. Há cortes orçamentários, desídia gerencial, falta de políticas que indiquem rumos. As instituições de ensino são fortes. Por isso mesmo têm conseguido enfrentar a situação e evitar o pior. Exemplos não faltam, seja na pesquisa da área de saúde – que terá um desafio imenso de se tornar ainda mais internacional para enfrentar a variante brasileira do coronavírus, que aterroriza o mundo inteiro – seja no desenvolvimento de ações institucionais de ajuda aos estudantes e apoio aos professores nas novas condições de ensino.

Mas falta uma política, uma orientação, uma incorporação do debate que vem se realizando pontualmente. São mais de 8 milhões de estudantes no ensino superior. Soluções pontuais precisam ser analisadas, debatidas e expandidas. Já existe algum conhecimento acumulado sobre os processos educativos em circunstâncias tão especiais. É preciso sistematizar e unir esforços dentro do sistema de ensino, congregando todos os setores, professores, estudantes. Antes que a boiada destrua esta lavoura cultivada com muito empenho e dedicação pelas gerações que se sucedem na produção da ciência e da universidade brasileira.


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